Amor tardio
Amor perdido
Carlos Eduardo
Esmerion
Numa terra distante vivia uma princesa encerrada em sua torre que assomava ao centro de
uma grande floresta. Diziam que ela era uma feiticeira poderosa e que havia abandonado sua
família para viver s?com seus pássaros e seus lobos na floresta. Os animais a amavam,
pois ela cuidava de todos eles e at?as árvores lhe prestavam reverencia por que ela as
protegia dos lenhadores, expulsando-os com feitiços assustadores. E por tantos anos usou
seus poderes para isso que a floresta se tornou livre dos homens, pois ninguém ousava
nela penetrar com medo da princesa e muitas a chamavam de bruxa.
Numa tarde um jovem pastor adentrou na floresta para buscar uma de suas ovelhas que havia
se desgarrado do rebanho e logo a que ele mais prezava. A despeito de todas as coisas que
j?tinha ouvido sobre o lugar não temeu e seguiu em frente disposto a sair de l?s?
quando encontrasse a ovelha desgarrada. Ele foi longe e nada, de repente se viu rodeado
por árvores altas cujas copas elevadas impediam que os raios de sol chegassem ao chão.
Ficou desesperado, não conseguia achar direção e as mesmas árvores pareciam se fechar
cada vez mais a sua volta. Mas de súbito ouviu uma doce voz entoando uma canção tão
bela que lhe arrancou lágrimas dos olhos. Ele seguiu a voz e depois de um tempo se viu
diante da torre e l?em cima vislumbrou a mais bela mulher que se podia imaginar: seus
olhos brilhavam mais do que as estrelas e sua pele reluzia como o marfim precioso: Era a
princesa que cantava e olhava para ele com olhos penetrantes.
- Ali esta a sua ovelha jovem pastor, pegue-a. Dei ordem para meus lobos não a machucarem
e também para nada fazerem com voc? pois ?homem de bom coração como poucos que
andam neste mundo. Pode partir se quiser, v?em paz e siga com Deus, mas se quiser
também pode ficar um pouco e descansar. Não tema a chegada da noite, quando quiser um de
meus pássaros te guiara para os limites da minha floresta para não se perder. - disse
ela com uma voz tão meiga e delicada que convenceria at?mesmo uma pedra.
- Como recusar tão bela companhia? Obrigado minha senhora, certamente ficarei. Olhando
para sua beleza extrema vejo o quão mentirosos são os homens que deturpam tão alta
princesa com histórias de bruxaria e coisas semelhantes. - Disse o pastor.
- Sim, sei bem o que falam de mim, meus pássaros me contam tudo. Mas não ligo, sou o que
sou e tudo que faço ?para defender minha floresta da ganância dos outros e da maldade
das pessoas. Se todos que entrassem em meus domínios tivessem seu coração não
precisaria mover um dedo para defender o que ?meu. Mas, meu trabalho ?duro, a anos o
faço sozinha e vivo aqui isolada sem companhia pois todos me temem e ninguém me ama,
salvo meus animais.
Depois dessas palavras o pastor ficou comovido e desde então ia todos os dias passar a
tarde com a princesa, mas nunca entrava na sua torre apenas ficavam conversando de longe.
Ela debruçada do alto da única janela que existia na construção e ele sentado numa
pedra abaixo, por anos eles se encontraram todos dias e ficavam juntos at?o anoitecer
quando então uma coruja guiava o pastor para fora, pois todo dia os caminhos mudavam sob
as árvores. Durante esse mesmo tempo o pastor foi tomado de amor pela princesa que o
correspondia também e igualmente dizia que o amava e lhe prometia que ficariam juntos.
Ela lhe fazia canções e jogava lenços com seu perfume. Todo encontro ela lhe enchia de
esperanças e com sua magia o fazia ter sonhos onde os dois estavam juntos e se amavam em
lugares belíssimos. Os anos passavam e nada de suas promessas se concretizarem, nem mesmo
na torre ele podia entrar.
- Por que não posso subir at?voc?minha amada? Se não tem escadas eu trago uma corda
e escalo as paredes, deixe-me ir te abraçar e te beijar. J?faz tantos anos que nos
encontramos e nunca lhe toquei, nunca lhe abracei. Meu coração dói por isso, deixe-me
ir at?voc? - Implorava ele diariamente.
- Não! Ainda não ?hora meu amado, essa torre ?encantada e nenhum homem pode subir
at?mim enquanto perdurar esse feitiço que eu mesma coloquei para me proteger, mas todos
os dias trabalho para desfaz?lo e o farei em breve, fique tranqüilo. Contudo, enquanto
não o desfaço voc?não pode subir, se o fizer certamente morrer?
Mas as palavras da princesa eram mentirosas por que não havia nenhum feitiço e bem prezo
a sua cintura estava a chave que abria uma passagem que conduzia ao alto da torre, mas ela
não lhe dava. Ao invés disso alimentava o pastor com mais e mais esperanças e os anos
passavam e as coisas continuavam como sempre: ele na pedra, ela no alto da torre e os
dois, mesmo depois de dez anos jamais haviam se tocado.
O coração do pastor estava j?despedaçado por tudo aquilo, porém a despeito da sua
imensa vontade de estar com a princesa ele a respeitava e jamais tentou ir contra a sua
palavra. Porém, o desespero o atormentava, ele não mais vivia em paz com aquele amor que
não se realizava, o que mais lhe machucava o peito era ter sua amada tão perto e não
poder toc?la. A princesa, mesmo diante de todo sofrimento do pobre pastor não amolecia
seu coração e mantinha firme em não permitir que o pobre homem apaixonado subisse em
sua torre. Ela o seduzia, enchia seu coração de esperança, mas no seu íntimo ainda
não tinha vontade de realizar nenhuma delas. Por que fazia isso? Somente Deus o sabe...
Ocorreu que numa tarde o camponês não veio ao seu encontro. Era a primeira vez depois de
dez anos que isso acontecia. Ela o aguardou e ele não veio. - Certamente amanh?vir?
algo deve ter impedido de o fazer hoje - pensou. E veio o dia seguinte e ele também não
apareceu. O terceiro e o quarto dia e nenhuma notícia. A princesa j?estava apreensiva e
desesperada, agora com a ausência do jovem ela teve a certeza que precisava dele, com a
sua ausência ela percebeu que o amava. - Meu Deus eu o amo, sim eu o amo! Quando ele vier
eu abrirei a minha porta e permitirei que entre e me abrace e me beije, pois s?agora
vejo que preciso disso. Eu o amo! - Disse ela cheia de alegria no coração.
No entanto os dias se seguiram e ele não veio. Depois de algum tempo um de seus pássaros
trouxe a notícia de que o camponês havia sido morto pelos aldeões, pois estes
acreditavam que ele havia feito pacto com ela e lhes passaram a atribuir a causa dos
infortúnios que aconteciam na vila. - Eles o mataram minha senhora, por que o pobre a
amava e todos diziam que era seu lacaio e que as coisas más eram obras sua e dele. Ele
não vir?nunca mais, nunca mais.
Ao ouvir aquilo a princesa caiu em prantos e tão grande foi a sua dor que não pode
suportar. Tão grande foi seu arrependimento que seu coração deixou de bater. A torre
ruiu e toda floresta morreu em seguida: as árvores secaram, os animais partiram e nenhuma
planta, ou erva, ou mesmo capim, cresceu naquele lugar. Tudo se tornou árido como um
deserto. ?noite, os mercadores que agora cruzavam as areias sem vida daquele lugar
diziam ainda poder ouvir os lamentos da princesa e seu choro: Ela não parava de repetir
ele não vir?mais, nunca mais e eu o amava...
Carlos Eduardo Esmerion (1981) ?advogado, nascido e morador na cidade do Rio
de Janeiro. Tem muitas obras escritas, mas ainda não publicadas. Desde cedo foi leitor
voraz, sentindo-se atraído pelos temas de ficção, fantasia e grandes épicos. Seus
escritos, na sua totalidade, são épicos fantásticos, pois tem uma certa facilidade para
imaginar e criar esses mundos de fantasia, contudo, sem uma quebra brusca com a realidade.
De todos os livros que leu at?hoje, três o marcaram profundamente: "O Senhor dos
Anéis" de J.R.R Tolkien; o monumental romance "Ana Karenina", de Tolstoi,
e o grandioso "Dom Quixote" de Cervantes, o qual considera o maior dos três
citados.
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